Decorrido o primeiro dos dois dias de greve regional decretada pelo SIM na ARS de Lisboa e Vale do Tejo, interessando apenas uma parte dos serviços e estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde nesta ARS e que terá continuidade em 27 e 28 de setembro com envolvimento de outros serviços e estabelecimentos, podemos desde já destacar:
Em primeiro lugar, a elevada adesão registada neste primeiro dia, que estimamos numa percentagem média muito superior a 90%, excedendo mesmo as melhores expectativas, podendo-se adiantar alguns números que as percentagens de adesão atingem nos centros de saúde 95%, nos blocos operatórios 90% e nas consultas hospitalares 89%. Aos médicos que, sindicalizados ou não, de modo coerente com a sua revolta o demonstraram no terreno, o nosso reconhecimento.
Especificamente alguns exemplos:
- Hospital Beatriz Ângelo: cirurgia 80%, endocrinologia, reumatologia e oftalmologia 100% adesão, medicina interna 90%;
- ACES Loures Odivelas e ACES Arrábida: 90%, com unidades de saúde a 100%;
- Hospital Vila Franca Xira: Anestesiologia 100% e blocos operatórios 100%;
- Hospital de Setúbal: bloco operatório 100%;
- Hospital Garcia de Orta: blocos operatórios 90%, consultas 95%;
- Centro Hospitalar Barreiro Montijo: blocos operatórios 100%, consultas 85%;
- IPO Lisboa: patologia clínica 100%, anatomia patológica 100%, consultas não urgentes 75%, radiologia 90% (aqui serviços mínimos muito alargados nas cirurgias e tratamentos oncológicos).
Em segundo lugar, destaque para o elevado sentido deontológico e comportamento irrepreensível continuamente demonstrado no cumprimento dos serviços mínimos.
Em terceiro lugar, o nosso reconhecimento às palavras e atitudes de compreensão que continuam a ser recebidas dos nossos doentes e ao apoio renovado de personalidades políticas e partidárias de todos os quadrantes.
É sabido que as negociações que se arrastam há 17 meses não levaram a um acordo com os sindicatos médicos, apesar de a persistência sindical ter obstado a alterações extremamente gravosas a nível da Medicina Geral e Familiar e ter trazido para a mesa negocial as razões dos médicos de Saúde Pública.
Não tenhamos ilusões: sob a roupagem da auscultação, diálogo e negociação, o Governo manifesta com as suas propostas um notório desrespeito pelos médicos.
Rever uma grelha salarial é remunerar melhor sem aumentar a carga de trabalho nem tentar abolir mais valias laborais que os trabalhadores médicos obtiveram pela negociação coletiva e acordos coletivos de trabalho livremente assinados, curiosamente com um Governo do Partido Socialista. Falamos por exemplo de descansos compensatórios e de limites ao trabalho suplementar essenciais a segurança de médicos e doentes.
Propor um aumento médio transversal a todas as áreas de exercício profissional de 3,1% com uma inflação de 7,8% em 2022 a que se soma a perda de poder de compra de 20% nos 10 anos anteriores, com uma grelha salarial que data em parte de 1999 e congelada em 2005, paradoxalmente revista em 2012 nos tempos da troika, respaldados com um aumento de 11 mil milhões de euros em receitas fiscais em 2022, o que é senão isso?
Condicionar um maior aumento salarial à adesão a um novo regime de trabalho denominado de dedicação plena dos médicos que aceitem prescindir dos atuais direitos que possuem, de proteção da qualidade e da segurança, para si e, para os doentes, é um caminho perigoso e que não pode ter a aquiescência sindical.
Tal regime será assim de decisão individual. Com ela o Governo vai cobrar diretamente a cada médico as perdas de direitos que sempre declarámos serem inegociáveis, não tendo, pois, o acordo do Sindicato Independente dos Médicos.
Por isto tudo o SIM, mantém as greves em curso. Continuamos fiéis à nossa palavra de ordem: "Pelo SNS, pela saúde dos portugueses”.