Os portugueses, especialmente os mais desfavorecidos, cada vez mais têm menor acesso a serviços de urgência de pediatria.
No mês em que o Conselho de Ministros aprovou um diploma legal dos mais gravosos da história da Medicina Portuguesa (os Novos Estatutos da Ordem dos Médicos), sucedem-se um conjunto de tropelias - seguramente bem-intencionadas, mas inequivocamente sintomáticas.
Ou seja, em vez de resolver a causa dos problemas do SNS, o Governo, através da Direção Executiva, aplica "mezinhas”, na ânsia da sua resolução político-mediática, que não estrutural.
Perante a escassez de médicos no SNS por incompetência do governo e falta de investimento, em áreas críticas à saúde dos Portugueses; e perante serviços de urgência de pediatria com recursos humanos e materiais exauridos, procede-se ao seu encerramento "rotativo”.
Escalas de SU de pediatria abaixo dos mínimos, com cada vez menos pediatras...
É o ilusionismo no seu pior e a política do faz-de-conta no seu melhor.
É incrível que o Governo não perceba que não é com mezinhas que se resolvem os problemas; apenas se os adia, na esperança vã de virem a cair no esquecimento. O governo não pode ter como principal função encerrar.
O mais recente
relatório da OCDE refere, como solução estrutural para o desinvestimento negligente no SNS, o aumento dos salários e a flexibilização dos horários de trabalho. Trata-se de medidas desde sempre defendidas pelo SIM, uma vez que permitiram estancar, no imediato, a saída dos trabalhadores médicos e, a prazo, cativar novos especialistas para o SNS.
De acordo com o referido relatório, a remuneração dos médicos especialistas portugueses, substancialmente inferior à da média da OCDE, é ultrapassada por 24 países, de um total de 31considerados. Incluem-se, naqueles com uma remuneração superior, países do antigo bloco soviético e, mesmo, a Turquia...
Lembramos que António Arnaut preconizou a equiparação dos salários dos médicos aos dos magistrados. E que alertou, no ano da sua morte (2018), o atual Primeiro-ministro para a precariedade do SNS.
A quinze dias do termo do processo negocial, aguardamos pela proposta de grelha salarial. Mas, desengane-se o Governo se pensa que esperaremos abulicamente...
Comprometemo-nos com o calendário negocial mas seremos inflexíveis, nas formas de luta, a partir de 30 de junho.