A Senhora Ministra da Saúde ainda não percebeu.
Ainda não percebeu que a esmagadora maioria dos médicos não quer fazer trabalho extraordinário e nem sequer sendo bem pago, ainda por cima transitória e oportunisticamente.
Já lhes basta serem obrigados (algo ímpar e único na função pública) a executarem as 150 horas anuais de trabalho extraordinário previstas no Código do Trabalho! São muitos dias, muitas noites, muitos feriados e fins de semana sem descanso e longe da família.
A Senhora Ministra ainda não percebeu.
Ainda não percebeu que a solução para a falta de médicos nas urgências (e não é só na Obstetrícia, sector para o qual estão a aparecer vendilhões do templo com soluções miraculosas) passa por captar e manter Médicos Especialistas e Recém-Especialistas no SNS.
A Senhora Ministra ainda não percebeu.
Ainda não percebeu que só o conseguirá proporcionando aos médicos vencimentos mensais condignos com a especificidade, o risco profissional, a responsabilidade e a penosidade do trabalho medico, nivelando-os com os seus colegas europeus. E que isso passa por uma negociação urgente e séria com os sindicatos médicos. Mas a celeridade não conta para os lados da Av João Crisóstomo. Os sindicatos continuam a aguardar a recepção do protocolo negocial acordado há 15 dias e a marcação de datas negociais.
A Senhora Ministra ainda não percebeu.
Ainda não percebeu que fazer telefonemas a Directores de Serviço a questioná-los por não terem suspendido as férias dos médicos em resposta à falta de recursos agravada por abandonos em massa do SNS ou substituir Directores Clínicos na esperança que sejam tirados coelhos da cartola, ainda mais agudiza a crise...
A Senhora Ministra ainda não percebeu que assim não vai lá.