A Segurança Social há muito tempo que canibaliza os Centros de Saúde.
Basta a ninharia de que, a pretexto do pagamento do subsídio de doença, os utentes têm obrigatoriamente que ter uma consulta mensal (ou seja, 12 a 13 consultas ano!) para esconder as insuficiências e gerir as conveniências da Segurança Social.
Curiosamente os indignados com os atrasos e as falhas de atendimento dos Cuidados de Saúde Primários nem com luvas tocam neste abuso.
Ou nos relatórios para as Juntas da Segurança Social de Avaliação de Incapacidade Temporária, nos múltiplos - e repetidos - atestados para tudo e mais alguma coisa. Que uma criança cujos pais decidem inscrever numa creche precise de atestado remete-nos para um país de tamancos...
Mas a questão nem sequer é esta. A questão é: querem - ou não - eliminar os problemas práticos, concretos, simples, estúpidos, que entopem o dia-a-dia dos médicos dos Cuidados de Saúde Primários?
Os milhares de prescrições de fraldas, de próteses e equipamentos acerca dos quais não decidimos, o atoleiro dos "copistas" de prescrições alheias (repetidas até à náusea), os relatórios absurdos (mensais / bimensais) para justificar o que qualquer médico deduz lendo o processo clínico (que está acessível... é eletrónico... é obrigação de todos...).
É que eliminar este lodo não custa dinheiro...
E liberta recursos para o tal atendimento que se diz que não se faz...
Então?
Não há vontade política de resolver os problemas.
Há vontade de manter a fachada seja à custa do que for. É preciso manter o pantanal porque oculta a pequena incompetência dos muitos trabalhos inúteis à custa dos poucos que ainda sobrevivem trabalhando.
As recentes afirmações do Secretário de Estado sobre "atendimento médico quaisquer que sejam as circunstâncias" é um bom exemplo disto mesmo - parou no tempo, não tem ideia do que seja a medicina clínica atual, nunca se sentou num Centro de Saúde a atender doentes - é apenas mais um a repetir frases irracionais...
É o poder pelo poder.