Visão, 14 março 2020
Médicos estão alarmados com a crescente falta de equipamentos de proteção para o Covid-19. "A questão não é onde faltam equipamentos de proteção, a questão é onde existe esta proteção. Não há equipamentos em praticamente lado nenhum. Em Santa Maria, por exemplo, havia ontem internos a tratar de problemas de ventilação sem terem uma máscara para colocar no rosto, nem sequer das sequer cirúrgicas”, afirma Roque da Cunha, presidente do Sindicato Independente dos Médicos.
Por isso, faz um apelo "fortíssimo” ao Ministério da Saúde para disponibilizar com urgência máscaras e fatos em quantidades suficientes. "Sem profissionais protegidos não há doentes tratados”, sublinha Roque da Cunha.
O Sindicato Independente dos Médicos emitiu há dois dias uma nota interpelando a Ministra da Saúde a responder em tempo útil a esta situação. "A cada hora que passa, o Sindicato Independente dos Médicos toma conhecimento de um crescente número de casos em que se regista a falta de equipamento de proteção individual (EPI) para uso dos trabalhadores médicos”. E recomendou ontem a todos os médicos que se recusem a atender todos os doentes agudos com sintomas respiratórios agudos sem equipamentos de proteção individual adequados, nos quais se incluem as máscaras respiratórias (e não as cirúrgicas).
Segundo Roque da Cunha, existe justa causa de não prestação de cuidados assistenciais de saúde, por parte de um trabalhador médico a quem não sejam postos à disposição os meios e instrumentos indispensáveis. Sublinhe-se que médicos infetados são também potenciais focos de disseminação da doença.
"Toda esta situação roça a prática de um crime contra a saúde pública”, afirma. E se o problema é falta de stock, Roque da Cunha aponta uma solução: "Francisco George disse que tinha três milhões de máscaras na Cruz Vermelha. Então o Sindicato Independente dos Médicos exige que as partilhe!”
Centros de Saúde à mingua de máscaras de proteção
Os profissionais das Unidades de Cuidados de Saúde Primários sentem-se desprotegidos perante a afluência crescente aos serviços com sintomas correspondentes ao Covid-19 e também reclamam mais equipamentos de proteção. Médicos, enfermeiros e restantes profissionais de saúde familiar acusam não terem equipamentos de proteção para si próprios, nem tão pouco para protegerem os doentes que chegam com sintomas de gripe às unidades.
"Só existia máscara que estava no centro desde os tempos da gripe A, completamente fora de prazo. Máscaras boas e limpas, em todo o centro, existem apenas três – para todo o pessoal e doentes que entrem com sintomas. Há profissionais com as mesmas máscaras cirúrgicas há uma semana! Máscaras de bico de pato não existem. Como é que isto é possível!?”, questiona uma médica do agrupamento de Oeiras, que pediu para ficar incógnita.
Noutro centro de saúde da zona de Lisboa, a situação é melhor mas longe do ideal. "Temos tudo contadinho. Estão pedidas máscaras desde há algum tempo e não aparecem, não temos bico de patos, nem óculos. Por isso, os dentistas deixaram de dar consultas porque é um contacto muito próximo”, explica uma médica à Visão.
Graças à falta de resposta da linha, muitas pessoas dirigem-se às Unidades de Cuidados de Saúde primários em busca de despiste. E estas unidades estão ainda mal estruturadas para atender e despistar casos. Muitas vezes são os seguranças à entrada, sem qualquer formação médica, que perguntam se os doentes têm febre e tosse e fazem o primeiro despiste.
Na passada quarta-feira, a Ministra da Saúde deu ordem, através de um despacho, para aquisição imediata, por todas as unidades hospitalares do Serviço Nacional de Saúde, dos medicamentos e equipamentos de proteção individual, para reforço dos stocks em 20%. Quando chegarão estes materiais, eis a questão cada vez mais premente.