A USF Ribeira Nova fica numa zona com investimento público e privado marcado, ao lado do Time Out Market, no Mercado da Ribeira em Lisboa que foi remodelado e atrai centenas de visitantes diariamente.
A USF Ribeira Nova ali resiste num pequeno edifício residencial já degradado, servindo de urinol a quem desce do Bairro Alto de um lado e de lixeira do outro.
Na USF Ribeira Nova não há sala de reuniões, nem biblioteca, nem gabinete para os internos. É difícil encontrar um doppler fetal ou um otoscópio, aparelhos para os quais aparentemente é difícil encontrar verbas no orçamento do Estado.
Há, no entanto, uma copa muito acolhedora sem água quente, mas com fungos e baratas quanto baste. Há também uma sala de sujos que é ao mesmo tempo, armazém de produtos e vestiário da assistente operacional.
Os processos clínicos não estão no edifício, não há espaço para os mesmos e a parede podre por infiltrações e humidade por certo também não lhes faria bem.
Quando não há sistema informático fica-se então numa ilha, isolados do mundo, mas em frente à realidade nua e crua desta Lisboa.
Não, esta não é a Lisboa perfeita das inaugurações do Presidente da Câmara de Lisboa e dos planos bonitos para as televisões da Ministra da Saúde com anúncios de aumentos de 800 milhões de euros.
Esta é a Lisboa do silêncio, do abandono, das promessas não cumpridas, esta é a Lisboa que está velha e doente e por isso a USF Ribeira Nova tem das maiores taxas de domicílios.
A USF Ribeira Nova não consegue fixar médicos, nem enfermeiros nem assistentes técnicos prejudicando o continuum de cuidados ao longo da vida, chave de bons resultados em saúde. Não consegue porque os profissionais ficam nestas condições apenas o tempo suficiente até perceberem que não há futuro e que tudo vai continuar na mesma.
É fácil encontrar relatos de experiências muito boas no SNS, mas é também fácil encontrar os mesmos relatos de más experiências. Infelizmente, quando o próprio Ministério da Saúde permite que no SNS haja estas desigualdades entre unidades, está a tratar os cidadãos como utentes de primeira, de segunda e de terceira categoria, muito longe da propaganda.