Face às notícias que reiteradamente têm vindo a público e relativas a uma falta de Médicos Anestesistas no Hospital de Braga, obrigando ao cancelamento de cirurgias e outros actos médicos programados, urge informar que:
O Serviço de Anestesiologia conta com 39 especialistas e 3 internos do último ano com funções assistenciais equiparadas, mais internos mais novos que exercem funções assistenciais. Destes 39, 4 estão em licença de maternidade e 1 em comissão de serviço como Director Clínico noutra unidade hospitalar. Existe ainda uma médica reformada contratada a 20 horas por semana. Os horários praticados são, na maioria, de 40 horas semanais.
O Bloco Operatório do Hospital de Braga conta com 11 salas em rotina diariamente de segunda a sábado, mais uma sala para casos urgentes e uma outra sala num bloco periférico de obstetrícia para cesarianas urgentes. Dá apoio a serviços complementares: Imagiologia e gastroenterologia com carácter habitual e outros excepcionalmente. Diariamente há 4 especialistas em apoio ao Serviço de urgência, dos quais 1 para o serviço de obstetrícia e outro para uma unidade especializada de cuidados pós-operatórios prolongados. Os seus especialistas exercem ainda actividade em consulta externa, Dor Crónica, controlo de dor aguda pós-operatória, recobro anestésico e formação médica.
Portanto, o número de especialistas necessários diariamente para um exercício sem falhas assistenciais ronda os 23 a 25, dependendo da necessidade para postos assistenciais não habituais.
Contando com a colaboração de internos em fases menos avançadas e internos do último ano, a força de trabalho para toda a actividade ultrapassa as 45 pessoas.
Descontando os elementos em saída de urgência e, neste momento, os elementos de baixa por maternidade, o número de médicos disponíveis para trabalhar é praticamente o dobro dos necessário diariamente.
Não podemos falar, então, em carência de anestesistas!
Mas então como se justifica que haja falhas?
Os Médicos Anestesistas do Hospital de Braga sempre trabalharam para lá dos seus horários de base. Trabalham em horas extraordinárias em apoio ao serviço de urgência, com os cortes nos valores que são do conhecimento geral e nunca recusando fazê-lo mesmo que a isso tivessem direito e a penosidade do trabalho em horas incómodas assim o convidasse (noites, fins de semana e festas de grande importância pessoal, etc). Trabalham também em produção cirúrgica rotineira com um contrato entre o serviço e a administração que foi estabelecido há já cerca de 5 anos, e que também viu os seus valores reduzidos por imposição da administração.
Não se entende, assim, como se pode falar em falta de médicos anestesistas quando o número de médicos é o dobro do necessário e quando os médicos sempre cumpriram com a sua palavra. Onde poderá então estar o problema?
Sabe-se que a relação entre a maioria dos Médicos Anestesistas do quadro de pessoal do Hospital de Braga e o actual Director de Serviço não é a melhor, fruto de dificuldades de relacionamento pessoal e de criação de consensos por parte deste responsável, pouco conducentes à criação de um clima e ambiente de trabalho propiciadores do diálogo e da colaboração incondicional.
As políticas de gestão também podem levar chefias a decisões de legalidade duvidosa e de prepotência… e no caso do Serviço de Anestesiologia, não havendo um horário de trabalho estabelecido oficialmente e publicado em local visível como manda a Lei, tal serve para a ameaça de disposição arbitrária do dia de trabalho dos seus médicos, provavelmente em função das necessidades que advenham da existência ou não de médicos externos para cobrir necessidades. Inverte-se aqui toda uma lógica saudável de organização interna, privilegiando uma navegação à vista, uma política frágil de resolução caso a caso de problemas de funcionamento que vão surgindo, em detrimento de uma sistematização na organização que envolva os seus médicos, aqueles de quem toda a estrutura verdadeiramente depende, e com os quais existe um vínculo de responsabilidade.
Naturalmente os médicos não colaboram num quadro de caos como este.
Naturalmente surgem falhas numa organização que não privilegia os seus elementos.
E naturalmente também os problemas internos vêm a público... há sempre um utente mais bem informado, mais atento, mais consciente dos seus direitos, que reclama e faz estalar o verniz. Por mais que os enganem, como lhes contarem que há greves de anestesistas, etc, as pessoas sabem bem que isso pode não ser verdade. Que o problema está a outro nível, e não nos médicos que trabalham.
- Concursos de Medicina Geral e Familiar e de Saúde Pública15 novembro 2024O Sindicato Independente dos Médicos (SIM) defendeu junto do Ministério da Saúde a necessidade...
- Suplemento de Autoridade de Saúde: um passo positivo, rumo ao reconhecimento31 outubro 2024No âmbito das obrigações legais, o Sindicato Independente dos Médicos (SIM) foi formalmente...
- SIM em audição na Assembleia da República04 outubro 2024O Secretário-Geral do Sindicato Independente dos Médicos foi hoje ouvido em audição, na...