Todos tinhamos a percepção que o País teria que proceder a um "ajustamento" social, económico e financeiro.
Todos sabemos que dependemos exclusivamente de ajuda externa, isto é, estamos nas mãos dos credores.
Já todos adivinhávamos que as surpresas se acumulariam à medida que os armários e as gavetas se abrissem.
Mas ninguém esperava um aperto tão cerrado, tão brutal, tão exigente e tão perigoso.
Não sabemos se há/havia alternativa. Cremos que ninguém, nem o mais facínora dos ditadores, vive com agrado a decisão sobre tão extensa lista de cortes.
Os médicos, que já vinham participando na dízima socialista, vêm agora assegurada a sua manutenção por mais dois anos juntamente com a sonegação de 15% dos seus rendimentos anuais por via dos vencimentos referentes a subsídios de Natal e férias.
Os médicos que viram já reduzidas drasticamente as horas extra e o seu valor, pela redução do valor hora, vão agora ser expoliados acessoriamente por alteração unilateral dos valores percentuais das horas.
Claro que esta equiparação dos médicos ao grosso dos funcionários públicos, igualizando de forma comunista, tem o reverso de retirar o que os médicos tinham como agravo: o fazerem 12 horas consecutivas de trabalho e o de serem obrigados a mais 12 horas semanais para a Urgência.
A debandada dos médicos para a aposentação e a impossibilidade de funcionamento de muitas das Urgências que hoje existem vai ser uma realidade.
No fundo, a perigosa limitação do acesso aos cuidados de saúde, quer por encerramento de serviços, quer por aumento das taxas moderadoras, quer por degradação económica dos portugueses, é uma forma de conter a despesa.
Um morto não gasta nem recebe.
A morte dos doentes será um contributo heróico para a saída da crise.
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