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Sindicato Independente dos Médicos

"Desistimos de Portugal"... com neurónios em vez de malas de cartão...

31 dezembro 2014

Numa excelente peça jornalística intitulada “O desalento que levou os médicos a sair do país e a não acreditar no regresso”, o jornal Público retrata o estado e o sentir de muitos dos médicos portugueses.

Uma das entrevistadas, Ana Luísa Gonçalves, integra o Conselho Nacional do Sindicato Independente dos Médicos eleito em Março de 2012.

Para nós nada do que ela conta é novo… para o grande público talvez o seja… ou talvez não… acreditamos mesmo que não…

"Não saímos por desemprego, desistimos foi de Portugal" 
Ana Gonçalves, 54 anos, anestesista em França 

Depois de quase 30 anos de dedicação ao Serviço Nacional de Saúde, Ana Gonçalves disse “basta”. Emigrou. Ou, como a anestesista de 54 anos prefere dizer, “globalizou-se”. “Agora tenho a minha vida em Portugal e trabalho em França”, conta, em referência às viagens constantes para estar com o marido, filha e restante família. A mudança aconteceu em meados de 2013. “Senti-me de tal maneira usada por este Governo que decidi que estava na altura de sair. Estavam a tentar expulsar os quadros superiores e a segurança e a qualidade para os doentes deixaram de fazer parte do vocabulário do Governo”, lamenta a médica.

Soube da vaga para ir abrir um hospital novo em França através de uma empresa de recrutamento. Das negociações à prática foi um passo relativamente rápido. O francês não era problema e o salário era cinco vezes superior. Mas o que mais atraiu a anestesista foram as condições de trabalho e a qualidade de vida na pequena cidade entre Bordéus e Toulouse. Já teve grandes desafios: agora está à frente da maternidade que pertence ao hospital. Nada que desconheça. Mais de 20 anos da sua vida foram passados no Hospital Dona Estefânia e desde 2010 que estava na Maternidade Alfredo da Costa (MAC), também em cargos de direcção.

Ana Gonçalves descreve horas de trabalho consecutivas na MAC, que chegavam a ser mais de cem numa semana. “É assustador quando estamos a falar de vidas humanas. Não me sentia capaz de ordenar coisas fora da minha ética profissional. O que assisti foi a uma tentativa de expulsão dos funcionários públicos com mais formação, mais especialização e mais prática.” Para a anestesista, uma saída como a sua tem várias consequências. Primeiro, há falta de especialistas na sua área em Portugal. Depois, destaca que com a saída de médicos mais velhos se está “a perder a capacidade formativa para os mais novos”. Por último, reforça que atrás dos pais vai uma segunda geração de “filhos qualificados”. A filha de Ana é estudante de Arquitectura e está a fazer Erasmus em França. O mais natural é que fique.

No novo trabalho sente-se “contente e motivada”. “Sinto respeito entre todos os elementos do hospital e tudo o que se faz a mais conta”, diz. Com um contrato de 42 horas semanais tem direito a 35 dias de férias por ano, aos quais se juntam mais 15 extraordinários como recompensa do que faz. “Destaco a qualidade, o material, o trabalhar em segurança, sem andarmos a colar coisas com adesivo como acontecia na MAC. Em França a segurança do doente está sempre em primeiro lugar.”

O regresso, explica, só deverá ser possível depois da reforma. “Como as coisas estão é impossível. Tento ter esperança, mas duvido que Portugal volte a atingir o nível de um país de primeira linha. Olho para o que se continua a passar desde que saí e acho arrepiante”, comenta. Ao mesmo tempo, reconhece que nunca pensou emigrar. “Nunca me passou pela cabeça ir acabar os meus anos de trabalho em França. Infelizmente tive de sair com a minha vida estruturada em Portugal e foi com muita mágoa que larguei a família. Não foi só fechar a porta”, assegura. Quanto a França, admira a capacidade de visão do país. “Contratou um especialista como eu e poupou 20 anos de ordenados para conseguir alguém com esta experiência. Portugal só pensa a curto prazo. É que nós não saímos por desemprego. Desistimos foi de Portugal, trocámos tudo pela globalização.”

Uma história entre dezenas... que passam a centenas... e passarão a milhares, receamos bem

E assim termina 2014... perspectiva-se um 2015 de duras lutas sindicais médicas... 

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